Adicionado ao site em 02/12/2015
Modificado pela última vez em 04/01/2016 às 20:22
Acordei destruído. Começo a organizar a mochila, recolho as roupas do varal, café da manhã, fotos de despedida com o pessoal da pousada e 7h20 estava na estrada.
Um calor infernal me faz parceria nas primeiras horas da manhã. Trânsito de veículos e poeira até o Complexo da Zilda. É sábado e as pessoas buscam os recantos para diversão, seja ela como e qual for.
Meu corpo sofre com o calor, debilitado pela noite mal dormida, me deixando, assim, mais cansado. Mas a paisagem é bela, observando o conjunto de montanhas da Serra de Santo Inácio. São Thomé das Letras “tão perto, tão longe”. Em um mapa comercial da Estrada Real que vi no Museu do Tropeiro, o traçado do caminho passava pela exotérica cidade mineira. Sabe-se lá o porquê da mudança.
Eis que, quando entro, o receptor GPS me guia a converter à esquerda. Entrando na estrada para Minduri, cruzo com um motociclista. Rapidamente percebi que estava viajando, seja pela GoPro no capacete, pelas roupas e bagagem. Também deduzo que ele percorria a Estrada Real. Sigo o meu rumo e, em menos de um minuto, ele retorna e vem conversar comigo. Era o Hebert, de Belo Horizonte. Minha dedução estava correta. A viagem dele era de Paraty a Ouro Preto.
Conversarmos por uns 40 minutos numa pequena sombra. Era a segunda vez que ele fazia o trajeto. A primeira foi no sentido no qual eu estava a percorrer. Diz que não aproveitou direito Paraty por estar cansado e ter que retornar a Belo Horizonte. Dessa vez, a viagem seria mais proveitosa na cidade litorânea. Trocamos experiências vivenciadas nas nossas viagens.
Comento com ele uma ideia maluca em fazer um “moturismo” pelo interior da Paraíba, com uma Honda CG 125, alforges de couro cru, baixa velocidade, pequena distância, estradas sertanejas na caatinga. Esse modelo seria uma escolha mais cultural e antropológica, considerando que essa categoria de motos substituiu o simbólico jegue.
Ele caiu na gargalhada e me puxou para a realidade. Fundamenta-se somente nos aspectos da falta de conforto e segurança. Ainda mais se pensado em trafegar em vias não pavimentadas. A revenda da moto também foi cogitada como um problema ao término da viagem. Para a minha elucubração, ele até sugeriu o modelo de moto que ele estava a utilizar nessa viagem. Um modelo intermediário entre a Honda CG 125 e uma Yamaha Ténéré 660 e que pode alimentar o desejo por bigtrail. Sugere meu amigo a Tornado XR 250. Deixo de lado esses sonhos de liberdade e caio novamente na minha realidade sobre botas. Trocamos telefones, tiramos uma foto, nos despedimos e seguimos viagem.
São esses acontecimentos que tornam a viagem prazerosa. Conhecer pessoas tão incomuns, as quais compartilham a mesma doença causada pelo vírus “estrada”.
Verifico o relógio: 12h30. Verifico o receptor GPS: restam 8km. O calor continua forte. Um homem a cavalo passa por mim no sentido contrário. Nos cumprimentamos. Um pouco mais adiante, paro em uma casa simples para pedir água. Uma menina negra me atende, meio ressabiada. Depois de desarmada, ela se mostrou atenciosa e me trouxe uma jarra d’água, que seco rapidamente. Olho para os pés da garota, descalços. Agradeço e continuo o rumo.
O cavaleiro que anteriormente saudei, passa por mim retornando. Ele ficou admirado pelo tanto que tinha andado, entre os diferentes momentos que nos vimos. Pedi informações sobre a residência do Sr. Roberto. Explicou-me que era após a igreja. Ao passar em frente à igreja, vejo que teria festa. Nesse momento, me dei conta que no dia seguinte seria o dia de Nossa Senhora de Aparecida.
Na comunidade, me informo mais uma vez sobre o local da hospedagem. Como vi que estavam preparando comida para a festa à noite, resolvi perguntar. Acabei almoçando pão com carne e duas latinhas de guaraná. Sigo para o destino final, a antiga Estação Traituba, agora casa do Sr. Roberto. Bem simples e rústica, com alguns simpáticos vira-latas. Cama e chuveiro.
Ponho-me ao banho. Resolvo dar uma esticada na cama, pois não há o que visitar ou perambular. Acabo dormindo até às 17h. Acordo e vou conversar com o pessoal da casa. Além do dono, tinha mais gente hospedada. Vieram para participar da festa na igreja. Café, um pedaço de bolo e muita conversa, ou melhor, “mão de prosa”.
Às 18h20, a janta está pronta. Panelas no fogão a lenha. Tudo muito simples, mas saboroso. Descubro que, além dos cães, tinha um gatinho. Casa com animais e crianças traz muita vida e energia. Experimento uma pinga oferecida pelo anfitrião. Mais um pouco de conversa e não me animo para ir ver a festa na comunidade. Assisto um trem a passar a noite.
Às 20h30 vou para cama, pois o “dia de amanhã será um duro domingo!”
Meu pernoite
- Pousada Carrancas
- Estação Traituba
- Pousada Roda Viva


Estação Traituba
Residência do Sr. Roberto, na Estação Traituba. Ele oferece hospedagem para viajantes. Foi a salvação da minha caminhada. Tinha receio em não conseguir um apoio de pernoite entre os municípios de Carrancas e Cruzília. Isso garantiu a minha caminhada.
Onde:
Caminho Velho
Tipo de estabelecimento:
Receptivo Familiar
Endereço:
Estação Traituba, Carrancas (MG) Ver no Google Maps

Pousada Roda Viva
Ótima opção para hospedagem. Anexo restaurante com oferta de almoço e jantar. Comida mineira boa. Ótimo atendimento do proprietário e dos funcionários.
Onde:
Caminho Velho
Tipo de estabelecimento:
Pousada
Website:
Acessar o website
Endereço:
Rua Padre Tolego Tagues, 221. Carrancas, MG Ver no Google Maps
Selfies e pessoas que encontrei
- Povo da Hospedagem Estação Traituba
- Hebert “mototurista”

Povo da Hospedagem Estação Traituba
Sr. Roberto (direita) e pessoal da hospedagem Estação Traituba
Onde:
Caminho Velho
No retrato:
Locais

Hebert "mototurista"
Vindo de Paraty, esse é o Hebert. "Mototurista" de Belo Horizonte e com destino a Ouro Preto. Tivemos 40 minutos de ótima conversa!
Onde:
Caminho Velho
No retrato:
Viajantes da Estrada Real